quarta-feira, 20 de junho de 2012
sexta-feira, 15 de junho de 2012
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Agronegócio, mudanças climáticas e palestras de Molion
A Negação
das Mudanças Climáticas e a Direita Organizada - Parte 3 - E o Professor
Molion?
por Alexandre Araújo Costa
Ricardo
Felício fez aparição meteórica no programa do Jô Soares e, naturalmente, não se
sabe que alcance isso pode ter em termos de sua carreira de militante negador.
Como mostramos em dois textos anteriores - A Negação da
Mudança Climática e a Direita Organizada e A
Negação das Mudanças Climáticas e a Direita Organizada - Parte II -, em
termos acadêmicos, trata-se de alguém com atuação evidentemente limitada,
trajetória que não demonstra produtividade acadêmica. Desnudamos, porém, sua
vinculação com a direita organizada, seja através da MSIa, seja via colaboração
direta com o site Mídia@Mais - que, por sinal, é citado, no Lattes de
Ricardo Felício, como um dos locais em que ele, deixando de lado, é claro, a
conotação acadêmica do termo, "publica".
Evidentemente
Ricardo Felício não é o único negador brasileiro. Atuante há bem mais tempo,
com bem mais trânsito na comunidade acadêmica, ainda envolvido de certo modo
com a Meteorologia, através do Departamento da UFAL ao qual é vinculado, o
principal negador brasileiro continua a ser o velho Luis Baldicero Molion.
Aliás, algumas pessoas me indagaram exatamente como consta no título deste
texto: "E o Prof. Molion?". Objetivamos, aqui, responder a tal
pergunta.
Molion é
bastante conhecido na comunidade brasileira de Meteorologia. Sempre foi afeito
a posições excêntricas e teses que cientificamente poderiam ser chamadas, no
mínimo, de marginais (como a influência de vulcões submarinos sobre o El
Niño-Oscilação Sul). Sempre foi tido como controvertido e polemista na
comunidade. Conhecendo Molion há mais de uma década e meia, isso, porém,
parecia ser até um traço simpático. Quero, portanto, deixar claro que este
texto, longe de pretender atacá-lo do ponto de vista pessoal, tem como objetivo
expor as movimentações de Molion para além do mundo acadêmico, e que
evidentemente levarão à conclusão de que qualquer ilusão de isenção de suas
opiniões seria condescendência para com ele.
Sabe-se que o
professor da UFAL tem ministrado um sem-número de palestras nos últimos anos,
sempre dedicadas ao mesmo tema, isto é, combater o consenso científico em torno
do papel antrópico sobre as mudanças observadas no sistema climático. Não é meu
objetivo, neste breve texto, abordar as questões de mérito, o que fiz com relativo
aprofundamento em A Negação da
Mudança Climática e a Direita Organizada e em diversos posts em minha
página no Facebook, mas devo frisar que, longe de representar um negador mais
sofisticado, Molion também é grosseiro e desrespeitoso em seus ataques ao
restante da comunidade, e não preza pela coerência científica, fazendo uso do
amálgama variado e inconsistente de pseudoargumentos negacionistas. Num
momento, negando todos os dados observados, diz que não há aquecimento, mas
resfriamento; noutro, afirma que há aquecimento, mas que este não é antrópico e
que - contrariando novamente tudo que foi medido nas últimas décadas - é um
efeito do sol; ou ainda, que estamos diante de algo benéfico.
Sobretudo
essa combinação de isentar os fatores antrópicos e de afirmar que o aumento da
concentração de CO2 é benéfico tem caído como uma luva para que Molion transite
confortavelmente junto a um público específico: o do agronegócio e do
ruralismo. Afinal, se a pecuária não contribui com emissões de metano e se as
emissões de dióxido de carbono (e também de metano) associadas ao desmatamento
não são um problema, o discurso de Molion representa um tipo de armadura e
escudo pseudocientífico de que o agronegócio precisa. Afinal, se ninguém
consegue defender os ruralistas dos crimes perpetrados contra trabalhadores
rurais e ambientalistas; se a concentração de terra e de renda no campo
continua sendo uma mácula revoltante desde os tempos das capitanias em um
Brasil que nunca fez uma Reforma Agrária de verdade; se o uso massivo de
agrotóxicos e o envenenamento cotidiano de nossas mesas também desperta
antipatia do grande público... pelo menos com os argumentos
"moliônicos", o agronegócio e os reis do gado e soja ficam livres de
acusações quanto à questão do clima...
E, de fato,
Molion tem falado muito para esse público. Em 24 de junho de 2008,
palestrou no Seminário Cooplantio, divulgado
pela Rádio Rural neste link.
Outra entrevista foi realizada junto à Associação Nacional dos Sindicatos
Rurais das Regiões Produtoras de Café e Leite (SINCAL) - disponível neste link.
Em 30 de março de 2009, profere outra palestra, na Fenicafé 2009, com o
“tema” “Aquecimento global: mitos e verdades. Quais os efeitos para a
agricultura?” Nessa oportunidade, afirmou que “o aquecimento global é
totalmente questionável e amparado em imbecilidades"
- disponível neste link. Em 1º
de fevereiro de 2010, concede entrevista que foi divulgada como: “Prof. Molion
desfaz falsas acusações contra a pecuária”, em MFRural,
site que se autoapresenta como “um site desenvolvido com a finalidade de
facilitar as negociações e promover o encontro entre produtores rurais”. Na
home, a chamada é MF Rural - O
Agronegócio passa por aqui! Em 26 de março de 2010, ministrou palestra
patrocinada pela Câmara especializada de Agronomia do CREA-RJ. Na chamada, no
site disponível aqui,
dizem que “o alarmismo ambientalista, assim como o multiculturalismo, o
antitabagismo e a "anti-homofobia", é hoje uma das principais armas
utilizadas na construção do poder mundial”. Em 11 de fevereiro de 2011,
foi a vez de apresentar-se no Conselho Federal de
Medicina Veterinária. Neste, Molion diz exatamente o que o público-alvo
quer ouvir, afirmando que “a Pecuária, uma das principais atividades econômicas
do Brasil, na qual a Medicina Veterinária e Zootecnia atuam diretamente, sofre
uma penalização excessiva como agente causador de poluição”. O site
complementa, afirmando que, “De acordo com dados de Molion, a relação não pode
ser justificada, já que os rebanhos estão em crescimento, com aumento de 17
milhões de ruminantes ao ano e, no mesmo período, as taxas de metano seguem
estáveis”.
Imbatível
mesmo seria o que estava por vir em poucos dias. Em 26 de maio de 2012,
conforme divulgação neste link,
Molion palestraria na XV Assembleia do Foro
do Brasil - organização de direita cujos ataques à Comissão da Verdade, à
constitucionalidade das cotas, à “ofensiva indigenista” e cuja defesa do
agronegócio e do novo Código Florestal não deixam dúvidas de se tratar do mais
duro e radical neofascismo tupiniquim. O site anuncia, altissonante, que
"você terá oportunidade de saber como os conceitos de aquecimento global e
poluição pelo CO2 são uma grande farsa que movimenta bilhões de euros,
beneficiando empresas e ongs" e que "conhecerá muitas das verdades e a
história desse crime que está sendo cometido".
Em 31 de março
(atentem para a data), o Foro do Brasil
tinha a ideia de fundar o Partido Ordem
e Progresso (POP) - disponível neste link. Refere-se
à “Começão da Inverdade”, para defender torturadores e assassinos. Os links do Foro do Brasil, claro, não poderiam
deixar de incluir a Associação dos
Diplomados da Escola Superior de Guerra, o blog do conhecido
direitista, ator Carlos Vereza, o Cavaleiro
do Templo, o Levante-se Brasil,
os delirantes do Verde: A Nova Cor Do
Comunismo, o site da Monarquia
e, é claro, o indefectível Mídia sem
Máscara (daquele pessoal maluco que diz que a Globo e toda a mídia são de
esquerda, que a universidade é toda comunista,
etc.) e outros desse naipe.
Novamente
fica claro: há sempre algo por trás do discurso negador das mudanças
climáticas, da postura de ignorar todas as evidências concretas, de passar por
cima de tudo o que se conhece até de leis da Física, dos ataques grosseiros e
virulentos à comunidade científica e da tentativa de gerar descrédito junto à
opinião pública em relação à Ciência e aos Cientistas. Quem trabalha realmente
em busca da verdade científica disputa seu ponto de vista fazendo valer o
método. Coleta dados, faz experimentos, desenvolve e usa modelos. Escreve
artigos que, se estiverem corretos metodologicamente, serão apreciados e podem
servir de evidência. Se aquilo que Molion traz ao que ele chama de debate realmente fossem hipóteses
científicas, ele teria bastante espaço. A comunidade ainda tem por ele, até de
forma condescendente, apreço e respeito (pela pessoa, eu tenho, mas pela
conduta, não). Quatro dias após acusar a todos nós de farsantes e desonestos,
num evento da extrema-direita, Molion foi chamado para discutir sobre Extremos Climáticos, Zona
Costeira e Semi-Árido, num evento em Natal, do qual
também participarei, sobre Mudanças Climáticas e Vulnerabilidade.
Molion seria ouvido na comunidade, se sua postura fosse de fidelidade ao método
científico. Mas, assim como no caso de Ricardo Felício, a ciência anda longe.
Há muito foi abandonada, em nome da agenda política. O agronegócio e os neofascistas,
obviamente, aplaudem.
sábado, 9 de junho de 2012
sexta-feira, 8 de junho de 2012
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quarta-feira, 6 de junho de 2012
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