RUY CASTRO – FSP 30/jun/2014 - RIO DE JANEIRO
Estudo recente, orientado pela cientista americana Nadine Gaab, do
Laboratório de Neurociência Cognitiva do Hospital Infantil de Boston (EUA) e
publicado pela revista Plos One,
confrontou um grupo de 15 crianças, de 9 a 12 anos, que estava aprendendo a
tocar algum instrumento musical, com outro grupo que não passava por essa
experiência.
Os que estudavam música pareceram mais aptos a reter e processar
informações, resolver problemas, relacionar-se com os outros e desenvolver a
atenção, a concentração e a capacidade motora. Ou seja, levaram vantagem nos
testes de funções cognitivas, atividade cerebral e outros. Naturalmente, a
música a que a pesquisadora se refere é a que contém seus componentes
essenciais --melodia, harmonia e ritmo--, valoriza a beleza e se dirige à
inteligência. Nada a ver com Justin Bieber.
Há 50 ou 60 anos, os jovens ouviam toda espécie de ritmos --sambas,
baiões, foxes, mambos, fados, boleros, tangos, canções francesas e napolitanas,
valsas vienenses, jazz, calipso, rock'n'roll. Sabiam identificar qualquer
instrumento que vissem ou ouvissem --distinguiam entre um trompete e um
trombone, sabiam escalar a família inteira dos saxes, citavam pelo menos dez
variedades de cordas e conheciam a maioria dos instrumentos de uma sinfônica.
Aprendíamos com o cinema, o rádio ou nossos pais.
A partir dos anos 70, a vida se reduziu a guitarras, teclados e
percussão. Os outros instrumentos deixaram de existir. Os ritmos nacionais se
evaporaram e a música popular ficou igual em toda parte. A educação musical dos
garotos empobreceu. E os pais não podem ajudar, porque, já nascidos nesta
realidade, seu conhecimento não é muito maior que o dos filhos.
Em breve, estudos como o da dra. Nadine serão impossíveis. Não haverá
crianças em quantidade para fazê-los.