28/09/2014 - Ferreira
Gullar - Colunista - Folha de S.Paulo
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Tenho com frequência criticado o governo do PT, particularmente o que
Lula fez, faz e o que afirma, bem como o desempenho da presidente Dilma, seja
como governante, seja agora como candidata à reeleição.
Esclareço que não o faço movido por impulso emocional e, sim, na
medida do possível, a partir de uma avaliação objetiva.
Por isso mesmo, não posso evitar de comentar a maneira como conduzem a
campanha eleitoral à Presidência da República. Se é verdade que os candidatos
petistas nunca se caracterizaram por um comportamento aceitável nas campanhas
eleitorais, tenho de admitir que, na campanha atual, a falta de escrúpulos
ultrapassou os limites.
Lembro-me, como tanta gente lembrará também, da falta de compromisso
com a verdade que tem caracterizado as campanhas eleitorais do PT,
particularmente para a Presidência da República.
Nesse particular, a Petrobras tem sido o trunfo de que o PT lança mão
para apresentar-se como defensor dos interesses nacionais e seus adversários como
traidores desses interesses. Como conseguir que esse truque dê resultado?
Mentindo, claro, inventando que o candidato adversário tem por
objetivo privatizar a Petrobras. Por exemplo, Fernando Henrique, candidato em
1994, foi objeto dessa calúnia, sem que nunca tenha dito nada que justificasse
tal acusação.
Em 2006, quem disputou com Lula foi Geraldo Alckmin e a mesma mentira
foi usada contra ele. Na eleição seguinte, quando a candidata era Dilma
Rousseff, essa farsa se repetiu: ela, se eleita, defenderia a Petrobras,
enquanto José Serra, se ganhasse a eleição, acabaria com a empresa.
É realmente inacreditável. Eles sabem que estão mentindo e, sem
qualquer respeito próprio, repetem a mesma mentira. Mas não só os dirigentes e o
candidato sabem que estão caluniando o adversário, muitos eleitores também o
sabem, mas se deixam enganar. Por isso, tendo a crer que a mentira é uma
qualidade inerente ao lulopetismo.
Quando foi introduzido, pelo governo do PSDB, o remédio genérico —vendido
por menos da metade do preço do mercado— o PT espalhou a mentira de
que aquilo não era remédio de verdade. E os eleitores petistas acreditaram:
preferiram pagar o triplo pelo mesmo remédio para seguir fielmente a mentira
petista.
Pois é, na atual campanha, não apenas a mesma falta de escrúpulo
orienta a propaganda de Dilma, como, por incrível que pareça, conseguem superar
a desfaçatez das campanhas anteriores.
Mas essa exacerbação da mentira tem uma explicação: é que, desta vez,
a derrota do lulopetismo é uma possibilidade tangível.
Faltando pouco para o dia da votação, Marina tem menos rejeição que
Dilma e está empatada com ela no segundo turno —e o segundo turno, ao
que tudo indica, é inevitável.
Assim foi que, quando Aécio parecia ameaçar a vitória da Dilma, era
ele quem ia privatizar a Petrobras e acabar com o Bolsa Família.
Agora, como quem a ameaça é Marina, esta passou a ser acusada da mesma
coisa: quer privatizar a Petrobras, abandonar a exploração do pré-sal e acabar
com os programas assistenciais. Logo Marina, que passou fome na infância.
E não é que o Lula veio para o Rio e aqui montou uma manifestação em
defesa da Petrobras e do pré-sal? Não dá para acreditar: o cara inventa a
mentira e promove uma manifestação contra a mentira que ele mesmo inventou! Mas
desta vez ele exagerou na farsa e a tal manifestação pifou.
Confesso que não sei qual a farsa maior, se essa, do Lula, ou a de
Dilma quando afirmou que, se ela perder a eleição, a corrupção voltará ao
governo. Parece piada, não parece? De mensalão em mensalão os governos petistas
tornaram-se exemplo de corrupção, a tal ponto que altos dirigentes do partido
foram parar na cadeia, condenados por decisão do Supremo Tribunal Federal.
Agora são os escândalos da Petrobras, saqueada por eles e por seus
sócios na falcatrua: a compra da refinaria de Pasadena por valor absurdo, a
fortuna despendida na refinaria de Pernambuco, as propinas divididas entre o PT
e os partidos aliados, conforme a denúncia feita por Paulo Roberto Costa, à
Justiça do Paraná.
Foi o Lula que declarou que não se deve dizer o que pensa, mas o que o
eleitor quer ouvir. Ou seja, o certo é mentir.