sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Madoff é o grande mestre

'three horsemen of the apocalypse, greenspan, et al' photo (c) 2009, derek visser - license: http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/
Os três cavaleiros do apocalipse: Greenspan (centro), Rubin e  Summers
As nações desenvolvidas estão fazendo de suas dívidas enormes pirâmides, agindo como o Madoff. A pertinente afirmação foi feita por Jacques Attali em entrevista para o Le Monde na última 4ª feira e reproduzida no O Globo no dia seguinte.
Bernard Madoff, financista americano, foi quem provocou, em 2008, perdas de 65 bilhões de dólares com o golpe da piramide, pagando a seus investidores altos rendimentos, enquanto pôde, utilizando os recursos advindos dos novos investidores atraídos pelos mesmos altos rendimentos.
Vale lembrar que no post publicado em maio último A Grande Recessão se desdobra e apoiado em estudo da Auvest ficou claro que “o problema de débito excessivo não pode ser resolvido assumindo-se mais débito” e que estamos apenas na 2ª de 5 fases de acirramento da crise global, cujo ápice foi previsto para meados desta década. As ocorrências da última semana, provocadas pelo rebaixamento da classificação da dívida soberana americana e a impossibilidade da Europa gerir a crise da dívida que agora atinge a Espanha, a Itália e a França, por contágio da que se instalou na Irlanda, Grécia e Portugal, indicam que o desfecho pode se dar antes do que o imaginado.
É um mundo em turbulência, com o desemprego instalado e ampliando-se e que leva à revoltas populares na Espanha, Grécia, Norte da África, Israel e Síria, e agora com grande fúria, na Inglaterra.
Retornando à entrevista, o entrevistado vê fundamento no pânico que se instalou na semana passada, já que “a crise não foi resolvida, nem a do endividamento, nem a da governança tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. O sistema está super endividado e os mercados sabem que um dia será preciso pagar a conta”.
O problema está concentrado nos países desenvolvidos. No estudo “Debt burden in advanced economies, now a global threat” de Eswar Prasad e Mengjie Ding, tanto o problema quanto a concentração ficam claros: “O percentual do débito líquido em relação ao PIB dos países desenvolvidos foi de 46% em 2007 para 70% em 2011 e chegará a 80% em 2016. Já para as economias emergentes o mesmo percentual foi de 28% em 2007 para 26% em 2011 e chegará a 21% em 2016. Para mais e impressionantes detalhes, comparando países, o leitor poderá cessar o gráfico interativo online do Financial Times mediante registro gratuito.
O entrevistado não para por ai. Ele ressalta que na Espanha e nos EUA já começaram as moratórias no setor privado e que um calote da dívida americana só não ocorre graças ao poder que tem de imprimir dólares. E mencionou que após 2008 o ocidente não fez as reformas estruturais, apenas adiou o problema. Foi como dizer: “um momento, senhor carrasco”.
Mas, capitula na conclusão ao insistir no crescimento econômico como solução. Curiosamente, ele “esqueceu” que da mesma forma que mais dívida não resolve a dívida, mais crescimento somente irá aguçar os problemas que este mesmo gerou.
A crise se acirra e tem desfecho incerto. As guerras impulsionaram, historicamente, a “destruição criadora” teorizada por Schumpeter (ver o post Socialismo?) mas hoje teriam, se entre potencias bélicas, consequências catastróficas. A inflação, dissolveria as dívidas, mas traria efeitos políticos e sociais igualmente graves.
Em algum momento, portanto, a humanidade irá iniciar a transição para uma Nova Economia, forjando um mundo com justiça social, que preserve o meio ambiente e que nos permita maior bem estar.  Infelizmente, não sem grandes traumas sociais já que uma mudança de tal porte somente ocorrerá, previsivelmente, após esgotadas as tentativas via crescimento, guerra e inflação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário