Pela
primeira vez na história foi realizado um estudo completo e de longo
prazo para avaliar o efeito que um transgênico e um agrotóxico podem
provocar sobre a saúde pública. Os resultados são alarmantes.
O
transgênico testado foi o milho NK603, tolerante à aplicação do
herbicida Roundup (característica presente em mais de 80% dos
transgênicos alimentícios plantados no mundo), e o agrotóxico avaliado
foi o próprio Roundup, o herbicida mais utilizado no planeta – ambos de
propriedade da Monsanto. O milho em questão foi autorizado no Brasil em
2008 e está amplamente disseminado nas lavouras e alimentos
industrializados, e o Roundup é também largamente utilizado em lavouras
brasileiras, sobretudo as transgênicas.
O estudo foi realizado ao longo de 2 anos com 200 ratos de
laboratório, nos quais foram avaliados mais de 100 parâmetros. Eles
foram alimentados de três maneiras distintas: apenas com milho NK603,
com milho NK603 tratado com Roundup e com milho não modificado
geneticamente tratado com Roundup. As doses de milho transgênico (a
partir de 11%) e de glifosato (0,1 ppb na água) utilizadas na dieta dos
animais foram equivalentes àquelas a que está exposta a população
norte-americana em sua alimentação cotidiana.
Os resultados
revelam uma mortalidade mais alta e frequente quando se consome esses
dois produtos, com efeitos hormonais não lineares e relacionados ao
sexo. As fêmeas desenvolveram numerosos e significantes tumores
mamários, além de problemas hipofisários e renais. Os machos morreram,
em sua maioria, de graves deficiências crônicas hepato-renais.
O
estudo, realizado pela equipe do professor Gilles-Eric Séralini, da
Universidade de Caen, na França, foi publicado ontem (19/09) em uma das
mais importantes revistas científicas internacionais de toxicologia
alimentar, a Food and Chemical Toxicology.
Segundo reportagem da
AFP, Séralini afirmou que "O primeiro rato macho alimentado com OGM
morreu um ano antes do rato indicador (que não se alimentou com OGM),
enquanto a primeira fêmea, oito meses antes. No 17º mês foram observados
cinco vezes mais machos mortos alimentados com 11% de milho (OGM)",
explica o cientista. Os tumores aparecem nos machos até 600 dias antes
de surgirem nos ratos indicadores (na pele e nos rins). No caso das
fêmeas (tumores nas glândulas mamárias), aparecem, em média, 94 dias
antes naquelas alimentadas com transgênicos.
O artigo da Food
and Chemical Toxicology mostra imagens de ratos com tumores maiores do
que bolas de pingue-pongue. As fotos também podem ser vistas em algumas
das reportagens citadas ao final deste texto.
Séralini também
explicou à AFP que "Com uma pequena dose de Roundup, que corresponde à
quantidade que se pode encontrar na Bretanha (norte da França) durante a
época em que se espalha este produto, são observados 2,5 vezes mais
tumores mamários do que é normal".
De acordo com Séralini, os
efeitos do milho NK603 só haviam sido analisados até agora em períodos
de até três meses. No Brasil, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança) autoriza o plantio, a comercialização e o consumo de
produtos transgênicos com base em estudos de curto prazo, apresentados
pelas próprias empresas demandantes do registro.
O pesquisador
informou ainda que esta é a primeira vez que o herbicida Roundup foi
analisado em longo prazo. Até agora, somente seu princípio ativo (sem
seus coadjuvantes) havia sido analisado durante mais de seis meses.
Um
dado importante sobre esse estudo é que os pesquisadores trabalharam
quase que na clandestinidade. Temendo a reação das empresas
multinacionais sementeiras, suas mensagens eram criptografadas e não se
falava ao telefone sobre o assunto. As sementes de milho, que são
patenteadas, foram adquiridas através de uma escola agrícola canadense,
plantadas, e o milho colhido foi então “importado” pelo porto francês de
Le Havre para a fabricação dos croquetes que seriam servidos aos ratos.
A
história e os resultados desse experimento foram descritos em um livro,
de autoria do próprio Séralini, que será publicado na França em 26 de
setembro sob o título “Tous Cobayes !” (Todos Cobaias!).
Simultaneamente, será lançado um documentário, adaptado a partir do
livro e dirigido por Jean-Paul Jaud.
Esse estudo coloca um fim à
dúvida sobre os riscos que os alimentos transgênicos representam para a
saúde da população e revela, de forma chocante, a frouxidão das
agências sanitárias e de biossegurança em várias partes do mundo
responsáveis pela avaliação e autorização desses produtos.
Com informações de:
Etude unique, la plus longue et la plus détaillée sur la toxicité d'un OGM et du principal pesticide – CRIIGEN, 19/09/2012.
EXCLUSIF. Oui, les OGM sont des poisons ! – Le Novel Observateur, 19/09/2012.
Estudo revela toxicidade alarmante dos transgênicos para os ratos -
AFP, 19/09/2012.
Transgênicos matam mais e causam até três vezes mais câncer em ratos, diz estudo – UOL, 19/09/2012.
Referência do artigo:
"Long
term toxicity of a Roundup herbicide and a Roundup-tolerant genetically
modified maize". Food and Chemical Toxicology, Séralini G.E. et al.
2012.
(*) Matéria reproduzida do boletim 601 da campanha Por um Brasil Ecológico, Livre de Trasngênicos e Agrotóxicos. Foto: Reprodução.
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