terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O mais caro do mundo

03/12/2013 - 03h00
FSP  Vladimir Safatle

Ao que parece, chegou a hora de saudar o Brasil como o novo país "do mais caro do mundo". Foram necessárias décadas para alcançar tamanha conquista e, ao que parece, desta vez ela veio para ficar. Afinal, anos de trabalho árduo permitiram aos brasileiros ter o prazer de pagar o dobro no mesmo carro que outros mortais compram sem tanto sacrifício.

Atualmente, ser brasileiro é ter a satisfação de levar para casa o console Xbox mais caro do mundo. É poder humilhar os estrangeiros ao dizer o preço que pagamos em passagens aéreas, escolas, aluguéis e imóveis arrebentados em lugares com fios elétricos na frente da janela.

Para chegar a este estágio, foi necessário não apenas um conjunto substantivo de equívocos econômicos. Foi preciso muita cegueira ideológica para engolir a ladainha de que nosso troféu de "o mais caro do mundo" foi conquistado exclusivamente através dos impostos mais elevados e dos altos custos trabalhistas.

Não, meus amigos. Só em um mundo (como esse em que alguns liberais vivem) sem países como França, Alemanha ou Suécia o Brasil teria os impostos mais altos. Se nos compararmos aos EUA, veremos que a contribuição fiscal per capita de um brasileiro (US$ 4.000) é bem menor do que a de um norte-americano (US$ 13.550).

Na verdade, depois que se inventa o inimigo, é mais fácil esconder o verdadeiro responsável. Nosso troféu de "o mais caro do mundo" deve ser dedicado a esses batalhadores silenciosos do desastre econômico, a esses companheiros de todos os governos brasileiros: o oligopólio e a desigualdade.
A desigualdade econômica, esta tudo mundo conhece. Ela fingiu por um momento que estava se deixando controlar, mas deu não mais que uma unha para permanecer com todos os gordos dedos. Sempre se combateu desigualdade com revolução fiscal que taxasse os ricos, punisse radicalmente a evasão fiscal e limitasse os grandes salários. Mas, no país "do mais caro do mundo", o tema é tabu. Assim, uma classe de milionários pode empurrar alegremente os preços para cima porque não tem problema algum em pagar pelo mesmo o seu dobro, desde que as lojas ofereçam manobrista VIP e água com gás na saída do estacionamento.

Já a nova onda de oligopólios é uma das grandes contribuições da engenharia econômica do lulismo: os únicos governos de esquerda da galáxia que contribuíram massivamente para a cartelização de todos os setores-chaves da economia. Com uma política de auxiliar a formação de oligopólios via empréstimos do BNDES, o governo conseguiu fazer uma economia para poucos empresários amigos. Nela, não há concorrência. Assim, os preços descobriram que, no Brasil, o céu é o limite.

vladimir safatle Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo). Escreve às terças na Página A2 da versão impressa.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O mundo de Lula

17/07/2013 - 03h30

BRASÍLIA - Luiz Inácio Lula da Silva escreveu um artigo para o jornal "The New York Times" a respeito da onda de protestos de rua pelo Brasil.

O ex-presidente usa o texto para duas finalidades. Primeiro, faz um autoelogio sobre seu governo e a ampliação da sociedade de consumo. Depois, aponta razões da insatisfação dos brasileiros. Aí, claro, o responsável é um sujeito oculto.

O PT está no comando do país há dez anos e meio, com Lula e Dilma Rousseff. É mérito petista o aumento do mercado consumidor. Mas está nesse mesmo escaninho a responsabilidade pelo que não foi realizado.

"Eles [os manifestantes] querem uma melhoria na qualidade dos serviços públicos", escreve Lula. É verdade. E prossegue: "As preocupações dos jovens não são apenas materiais (...) Acima de tudo, eles demandam instituições políticas que sejam mais limpas e transparentes, sem as distorções do sistema político-eleitoral anacrônico brasileiro, que recentemente se mostrou incapaz de conduzir uma reforma".

Como assim? O "sistema" se mostrou incapaz? De qual sistema Lula está falando? O ex-presidente escreve como se não tivesse se esbaldado por oito anos em abraços com tudo o que ele próprio rejeitara no passado, inclusive xingando em público --como Fernando Collor e José Sarney. 

Chega a ser comovente o esforço de Lula para se aproximar dos manifestantes que foram às ruas. Ele prega a renovação dos partidos, inclusive do PT. A proposta é curiosa.

Lula manda no PT. O que foi realizado para modernizar o petismo nos últimos dez anos? Nada, exceto distribuir cargos públicos a filiados. 

"Enquanto a sociedade entrou na era digital, a política permaneceu analógica", escreve Lula. Já ele próprio entrou numa era de distanciamento. Até porque, se desejasse, poderia ter ido também à rua dialogar com os indignados durante o mês de junho. Mas o petista prefere escrever artigos para o "New York Times". 

Fernando Rodrigues Fernando Rodrigues é repórter em Brasília. Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

terça-feira, 16 de julho de 2013

'Bolsa passeata' desmoraliza sindicalistas

12/07/2013 - 08h37

Já sabíamos há muito tempo como figurantes ganham um dinheirinho para participar em comícios ou carregar bandeiras de candidatos. A 'bolsa passeata' flagrada ontem é novidade: sindicatos pagaram em torno de R$ 70,00 para "manifestantes"
.
A 'bolsa passeata' é simbólica.

As centrais sindicais, mantidas com dinheiro público, são poder. Muitos sindicatos só existem porque o trabalhador é obrigado a pagar. E se prestam a manter ou tentar derrubar governos, alinhando-se a candidatos e partidos.

Não se vinculam a projetos nacionais, mas são reféns de causas corporativas que, muitas vezes, significam mais gastos públicos ou empreguismo. São muito mais eficientes pelos corredores de Brasília.

O que as ruas vêm dizendo é que esses esquemas estão velhos. Não representam um país que busca soluções inovadoras e urgentes para a educação, saúde e transporte público. Estão muitas vezes ligados ao arcaico.

Não fossem os fechamentos de rodovias ou ruas, o dia de protesto teria ontem passado despercebido. O que falou mais alto foi a imagem dos manifestantes recebendo a "bolsa passeata".

 materia na folha
Gilberto Dimenstein Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Fuja da Monsanto...

Segundo fonte citada no final (veteranos de guerra vitimados pelo agente laranja, uma das mais nocivas invenções da MONSANTO), abaixo as companias que utilizam alimentos geneticamente modificados da MONSANTO. Se Vc quer ser uma cobaia de alto risco, consuma os produtos destas empresas (sic). Como é notório, a MONSANTO tem um esquema muito eficiente de "ganhar" aprovação oficial para seus frankensteins tecnologicos. E através de um lobby fortissimo feito junto às autoridades, impede o direito do consumidor saber quais produtos na prateleira do supermercado usam ingredientes geneticamente modificados. Então sobra para o cidadão a auto-defesa de deixar de consumir todos os produtos destas marcas.  É uma lista feita para as empresas que atuam nos USA, mas varias delas estão tbem no Brasil.


Aunt Jemima                                             
Aurora Foods
Banquet
Best Foods
Betty Crocker
Bisquick
Cadbury
Camp bells
Capri Sun
Carnation
Chef Boyardee
Coca Cola
ConAgra
Delicious Brand Cookies
Duncan Hines
Famous Amos
Frito Lay
General Mills
Green Giant
Healthy Choice
Heinz
Hellmans

Hershey's Nestle
Holsurn
Horrnel
Hungry Jack
Hunts
Interstate Bakeries
Jiffy
KC Masterpiece
Keebler /Flowers Industries
Kelloggs
Kid Cuisine
Knorr
Kooi-Aid
Kraft/Phillip Morris
Lean Cuisine
Lipton
Lorna Linda
Marie Callenders
Minute Made
Morningstar
Ms. Butterworths
Nabisco
Nature Valley
Ocean Spray
Ore-Ida
Orville Redenbacher
Pasta-Roni
Pepperidge Farms
Pepsi
Pillsbury
Pop Secret
Post Cereals
Power Bar Brand
Prego Pasta Sauce
Pringles
Procter and Gamble
Quaker
RaguSauce
Rice-A-Roni
Smart Ones
Stouffers
Sweppes
Tombstone Pizza
Totinos
Uncle Ben's
Unilever

v8
source: Agent Orange advocacy for children of Vietnam Veterans including second and third generation victims of Agent Orange and Dioxin Exposures http://covvha.net/
http://covvha.net/wp-content/uploads/2013/04/monsanto-gmo-do-not-buy.jpg

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Todos juntos (ou a miséria que é o jeitinho Brasileiro)

Antonio Prata

Coluna Folha de São Paulo 30/01/2013 - 03h00

Acho que já contei aqui a história, mas a ocasião me permite repeti-la. Eu tinha 18 anos e estava em minha primeira aula de filosofia, na USP. O professor, Renato Janine Ribeiro, nos explicava que no fim do semestre seríamos avaliados por um trabalho individual, cujo limite deveria ser de 8.000 caracteres. Levantei a mão: "Se estourar um pouquinho esse limite, tudo bem, né?". Janine sorriu e disse algo mais ou menos assim: "O que é 'limite'? É aquilo que não se pode transpor. Mas vejam como são as coisas no Brasil: entre nós, o limite não limita! Repito: o limite é de 8.000 caracteres".
Peço perdão ao filósofo se as palavras não foram exatamente essas. Assim, porém, é que ficaram gravadas na minha memória e é assim que me voltam, quase todo dia, quando me deparo com a nossa ilimitada necessidade de burlar a lei.

Há uma altura máxima para prédios na rota do aeroporto, mas o empreiteiro constrói um "puxadinho", alguns metros acima. A construtora precisa botar de tantos em tantos metros, sob o concreto da rodovia, umas ripas de metal, mas economiza dinheiro aumentando a distância entre elas. Quantas pessoas que compraram a carta de motorista você conhece? Que têm gato de TV a cabo? Que já subornaram um guarda de trânsito para não ser multado? O avião vai decolar, o comissário de bordo pede para desligarem os celulares, mas o sujeito o ignora solenemente. O avião pousa, o comissário pede aos passageiros para que aguardem sentados até o "apagar do aviso luminoso de atar cintos", mas todo mundo levanta. Não um, não dois: todo mundo --como se respeitar aquele simples sinal luminoso equivalesse a ter a palavra otário escrita na testa. 

Um sinal luminoso também piscou na cabine do Fokker 100 da TAM, que taxiava na pista de Congonhas na manhã de 31 de outubro de 1996, alertando sobre um problema no reverso da turbina. O piloto o desligou. O luminoso piscou novamente, novamente foi desligado. Segundo o depoimento de outro piloto, dias mais tarde, esse era o costume: se fossem dar atenção a todo alarme que soava na cabine, nenhuma aeronave saía do chão. Às vezes, ao que parece, alarmes soam à toa. Às vezes, não: 24 segundos depois de decolar, o avião caiu, matando 99 pessoas.

Eu estava saindo para a USP, naquela manhã, quando o telefone tocou. Uma amiga do meu pai queria saber se era verdade que meu tio Duda, irmão da minha mãe e meu padrinho, estava entre os passageiros. Liguei a televisão. Vi a lista. Era verdade.

Nas próximas semanas, o Brasil concentrará suas energias em encontrar os culpados pela tragédia de Santa Maria. É fundamental, se houver culpados (como parece ser o caso), que eles sejam punidos. É fundamental que as casas de show passem por reavaliações, como já estão passando. Mas se não mudarmos a nossa mentalidade, se não entendermos que as leis são universais, que há procedimentos que precisam ser executados conforme as regras, sem jeitinho, sem gambiarra, em TODAS as esferas, por TODAS as pessoas, as tragédias continuarão acontecendo --e a morte é um limite que nós, brasileiros, por mais espertos que nos julguemos, não somos capazes de transgredir.

antonioprata.folha@uol.com.br

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Consumo de tipo de açúcar pode aumentar fome

02/01/2013 - 04h57

REINALDO JOSÉ LOPES
Folha de São Paulo, EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
Um tipo de açúcar muito usado pela indústria de alimentos parece estimular ligeiramente as áreas do cérebro ligadas à vontade de comer, em vez de sinalizar que já é hora de diminuir a ingestão de calorias, indica uma nova pesquisa.

Se o resultado estiver correto, fica mais forte a ideia de que parte importante da culpa pela atual epidemia de obesidade mundial seria do uso indiscriminado de frutose, molécula que está presente nos sucos de fruta, no xarope de milho e em muitos outros produtos da indústria alimentícia, principalmente da americana.

A nova pesquisa, publicada no "Jama", periódico da Associação Médica Americana, foi coordenada por Robert Sherwin, da Universidade Yale (EUA), e tem como coautora a médica brasileira Renata Belfort-DeAguiar.

Num experimento bastante simples, a equipe submeteu um grupo de 20 adultos sadios (metade homens e metade mulheres), com idade média de 31 anos, a duas sessões de ressonância magnética funcional.

Primeiro, a atividade cerebral dos voluntários era medida sem intervenção nenhuma, para ter uma ideia de seu estado "normal" durante o jejum (as pessoas chegavam ao laboratório às 8h, ainda sem tomar café da manhã).

Depois, cada participante recebia 300 ml de uma bebida adocicada. A diferença é que, em metade dos casos, a bebida continha 75 gramas (ou 300 calorias) do açúcar glicose, enquanto nos outros casos o "adoçante" usado tinha sido a frutose, na mesma proporção.

Já há várias pistas de que a frutose atua de forma diferenciada sobre o organismo. Bem mais doce do que a glicose, a molécula estimula apenas ligeiramente a produção de insulina, hormônio que, além de coordenar o metabolismo de açúcar, também ajuda o organismo a entender quando já comeu o suficiente. O mesmo parece valer para outros hormônios e moléculas sinalizadoras ligadas à sensação de saciedade.

Ao analisar o cérebro dos voluntários durante a nova pesquisa, os cientistas de Yale prestaram atenção especial ao hipotálamo, região cerebral especialmente ligada ao controle do apetite. E o que eles viram parece dar peso ao suposto papel de vilão da frutose no aumento de peso.

Editoria de Arte/Folhapress
SACO SEM FUNDO Cérebro não fica saciado com o açúcar frutose
SACO SEM FUNDO Cérebro não fica saciado com o açúcar frutose
DIFERENÇAS
 
Cerca de 15 minutos após a ingestão das bebidas doces, por exemplo, quem bebeu glicose teve uma redução significativa da atividade do hipotálamo (medida pelo fluxo sanguíneo nessa região do cérebro)- era como se o sinal de "estou com fome" tivesse diminuído.

Já a ingestão de frutose nem fez cócegas no hipotálamo, ao menos nesse primeiro momento. Aliás, o que os pesquisadores observaram foi um aumento pequeno e passageiro da atividade dessa área cerebral.

A reação das regiões do órgão que estão mais conectadas ao hipotálamo em seu papel de regulador do apetite também variou consideravelmente na comparação entre bebedores de glicose e bebedores de frutose.

O resultado parece ser favorável à ideia de que é preciso reduzir o teor de frutose nos alimentos industrializados- esse açúcar é muito usado para melhorar o sabor da comida, em especial em países como os EUA.

Os pesquisadores alertam, no entanto, que mais estudos são necessários para determinar com precisão as implicações clínicas dos achados.