quarta-feira, 17 de julho de 2013

O mundo de Lula

17/07/2013 - 03h30

BRASÍLIA - Luiz Inácio Lula da Silva escreveu um artigo para o jornal "The New York Times" a respeito da onda de protestos de rua pelo Brasil.

O ex-presidente usa o texto para duas finalidades. Primeiro, faz um autoelogio sobre seu governo e a ampliação da sociedade de consumo. Depois, aponta razões da insatisfação dos brasileiros. Aí, claro, o responsável é um sujeito oculto.

O PT está no comando do país há dez anos e meio, com Lula e Dilma Rousseff. É mérito petista o aumento do mercado consumidor. Mas está nesse mesmo escaninho a responsabilidade pelo que não foi realizado.

"Eles [os manifestantes] querem uma melhoria na qualidade dos serviços públicos", escreve Lula. É verdade. E prossegue: "As preocupações dos jovens não são apenas materiais (...) Acima de tudo, eles demandam instituições políticas que sejam mais limpas e transparentes, sem as distorções do sistema político-eleitoral anacrônico brasileiro, que recentemente se mostrou incapaz de conduzir uma reforma".

Como assim? O "sistema" se mostrou incapaz? De qual sistema Lula está falando? O ex-presidente escreve como se não tivesse se esbaldado por oito anos em abraços com tudo o que ele próprio rejeitara no passado, inclusive xingando em público --como Fernando Collor e José Sarney. 

Chega a ser comovente o esforço de Lula para se aproximar dos manifestantes que foram às ruas. Ele prega a renovação dos partidos, inclusive do PT. A proposta é curiosa.

Lula manda no PT. O que foi realizado para modernizar o petismo nos últimos dez anos? Nada, exceto distribuir cargos públicos a filiados. 

"Enquanto a sociedade entrou na era digital, a política permaneceu analógica", escreve Lula. Já ele próprio entrou numa era de distanciamento. Até porque, se desejasse, poderia ter ido também à rua dialogar com os indignados durante o mês de junho. Mas o petista prefere escrever artigos para o "New York Times". 

Fernando Rodrigues Fernando Rodrigues é repórter em Brasília. Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

terça-feira, 16 de julho de 2013

'Bolsa passeata' desmoraliza sindicalistas

12/07/2013 - 08h37

Já sabíamos há muito tempo como figurantes ganham um dinheirinho para participar em comícios ou carregar bandeiras de candidatos. A 'bolsa passeata' flagrada ontem é novidade: sindicatos pagaram em torno de R$ 70,00 para "manifestantes"
.
A 'bolsa passeata' é simbólica.

As centrais sindicais, mantidas com dinheiro público, são poder. Muitos sindicatos só existem porque o trabalhador é obrigado a pagar. E se prestam a manter ou tentar derrubar governos, alinhando-se a candidatos e partidos.

Não se vinculam a projetos nacionais, mas são reféns de causas corporativas que, muitas vezes, significam mais gastos públicos ou empreguismo. São muito mais eficientes pelos corredores de Brasília.

O que as ruas vêm dizendo é que esses esquemas estão velhos. Não representam um país que busca soluções inovadoras e urgentes para a educação, saúde e transporte público. Estão muitas vezes ligados ao arcaico.

Não fossem os fechamentos de rodovias ou ruas, o dia de protesto teria ontem passado despercebido. O que falou mais alto foi a imagem dos manifestantes recebendo a "bolsa passeata".

 materia na folha
Gilberto Dimenstein Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.