quarta-feira, 23 de abril de 2014

O Porrete do Capitalismo


Fernando Canzian, 23/abril/2014 FSP (veja original aqui)

Goste-se ou não, o capitalismo tem à mão um porrete enorme, capaz de botar de joelhos o mais bem-intencionado governo. Basta ousar sair da linha. Esse mesmo sistema financia campanhas políticas. Desagradar a quem bombeia o dinheiro, sangue desse organismo quase totalitário, tem-se revelado inútil.
 
 Barack Obama e outros socialistas (os da zona do euro) que o digam. Juras de enquadrar bancos e banir bônus inacreditáveis de executivos não deram em nada. A conta da crise do fim da década passada é paga pelos massacrados. Quem perdeu emprego, casa e poupança sofre com cortes de serviços públicos. Seus governantes precisam cobrir a dívida pública que tapou o buraco dos bancos e salvou gigantes falidos em 2008.   

 É a lógica dominante. Pode-se argumentar que a Grande Recessão de seis anos atrás foi engendrada nessa configuração leniente. Por que políticos e governantes não mudaram tudo a partir dela? Ao que parece, não conseguem. Dependem dela. O Brasil de Dilma Rousseff e sua vizinhança tentam subverter essa lógica.   

 Na Venezuela, as maiores reservas de petróleo do mundo não vêm à tona por falta de investimentos. Nem papel higiênico Caracas tem a oferecer à sua população.   

 No Brasil, a imposição inicial de baixos retornos em concessões na infraestrutura, a bagunça no setor produtivo com desonerações pontuais, o represamento de tarifas e gastos públicos e a inflação em alta cortaram o crescimento de Dilma à metade do da era Lula.   

 Pode-se alegar que os donos do dinheiro são uns sacanas, que só investem quando mimados. Qual é a alternativa se o Estado não tem poupança suficiente para nada e deturpa -com política e corrupção- entes e agências que poderiam minimamente estabilizar as regras?   

 O fim da era FHC e os anos Lula tiraram 40 milhões de pessoas da miséria porque atenderam às demandas do capital. Programas sociais, empregos, moradia e distribuição de renda custam dinheiro. Quem financiou? Geração espontânea não existe.   

 Prevaleceu a técnica do judô: uso da força adversária em proveito próprio. Não havia banqueiro, empresário ou ex-miserável triste, dizia-se. Deu até para eleger poste.   

 Com Dilma, isso parou. Amedrontaram o bicho mais medroso do mundo, o dono do dinheiro. O Brasil não cabe mais em seu PIB. O desconforto geral explodiu e os donos da gaita se retraíram. O baixo crescimento e a inflação renitente vêm daí.   

 Oferecer um tapete vermelho bem regulado a quem pode nos tirar desse sufoco, recepcionado por um presidente faixa preta. Temos um candidato que pode fazer isso?

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